quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Meu primeiro casamento na Suíça como convidada. Diferente? Muito!

O convite de casamento chegou com mais de 8 meses de antecedência. E eu só fui conhecer a existência deste super amigo do meu namorado quando ele me contou que teríamos esse casamento agendado para o meio de julho. Quando eu falo super amigo, é super amigo MESMO. Fizemos parte de um grupo de apenas TRÊS casais convidados para todas as etapas do dia especial. Sim. Se você aí está prestes a casar, ou organizando a lista de convidados, repense!! Enquanto você está sofrendo para reduzir a lista de convidados de 300 para 200, este casal suíço convidou apenas TRÊS casais de amigos para a comemoração principal. O restante dos convidados era apenas família. Total? Provavelmente umas 50 pessoas.

Vamos com calma. O casamento suíço é divido em três ou quatro partes. O casamento civil, realizado no cartório, o religioso, na igreja, o aperitivo e o jantar. Mais ou menos igual ao brasileiro, certo? Pelo menos na divisão do civil e do religioso, que normalmente não acontecem no mesmo dia. No caso deste casal de suíços não existiu o casamento religioso. Por aqui, se você é católico, você precisa pagar uma taxa anual bem cara à igreja (papo pra outro post). O fato é que não houve cerimônia na igreja. (Ainda bem! Imagina uma missa de casamento em suíço-alemão?). Como éramos convidados VIP, fomos convidados para o casamento no civil, o aperitivo e o jantar. Tudo no mesmo dia.

PAUSA! Vale lembrar que um dia antes aconteceu a minha formatura do mestrado. Talvez a minha leve ressaca tenha contribuído para que eu achasse o casamento um pouco entediante. Ou talvez não. Cabe cada um tirar a sua própria conclusão.

Os crachás que recebemos
assim que chegamos
Chegamos por volta de 12h e ficamos na saída do local que estava acontecendo o casamento civil. A segregação de convidados aconteceu ali mesmo. Quem era VIP foi convidado também para estar dentro do local acompanhando o casamento no civil e recebeu um cracházinho com o nome. Quem não recebeu era porque tinha sido convidado apenas para o aperitivo. Detalhe. No total, apenas cinco casais estiveram no aperitivo, três deles convidados também para o jantar.

Os cinco casais convidados. Reparem que nem todos possuem o crachá.
Olha aí os cartões azuis
O aperitivo foi bem gostosinho. Sanduíches, cerveja, vinho, água, refrigerante e muita conversa. O que mais me chamou a atenção é que por aqui existe uma tradição com balão de gás bem interessante. Cada convidado recebe um balão de gás e um cartão, que você tem que preencher e amarrar na corda do balão. O cartão já vem impresso com algumas frases, além do endereço do casal, e você preenche com o seu nome, telefone e falando qual presente você daria para o casal caso eles recebam o cartão em casa. Ou seja, você solta o balão de gás e, em algum momento, por conta do peso do cartão, o balão vai cair quando acabar o gás. Em alguma outra cidade, provavelmente. O cartão explica que o fulano e a fulana se casaram no dia X e que o amigo Y esteve lá e se propôs a dar uma garrafa de whisky (por exemplo) ao casal, SE a pessoa que achou o cartão reenvia-lo ao casal. Aí o casal liga para o dono do cartão e cobra o presente. Entenderam? É meio confuso de explicar, mas muito simples de fazer. Achei engraçadinho, mas sei que nunca funcionaria no Brasil. Talvez em cidades pequenas. Mas imagina colocar o endereço do casal recém-casado? Prato cheio pra bandido ir lá fazer a festa, já que é bem provável que os móveis sejam todos novinhos. Rs. Ai, que tristeza, mas é verdade, também.

O fato é que as fotos do “momento do balão” ficaram lindas demais. Então, ponto positivo! Mas aí já vem com um negativo. Ficamos todos nós (convidados especiais) tirando fotos com os casais. Foram pelo menos 40 minutos de fotos. Teve uma que cada um se posicionava ao redor dos noivos em formato de coração, outra fazendo bolas de sabão, outra olhando para o casal, outra apontado para o casal, outra dando passagem para o casal na porta da igreja... enfim. Já não estava vendo a hora de acabar. 

O momento que todos soltaram os balões
Essa turma atrás de mim são colegas de trabalho.
Todo mundo de uniforme.

Ah! Outra coisa curiosa, na minha opinião, é que por aqui é muito comum você convidar os seus colegas de trabalho (acho que no Brasil também é, certo?) e eles aparecerem representando a empresa vestindo o uniforme de trabalho! Surreal, não? Foi exatamente o que aconteceu. A noiva trabalha em uma confeitaria e durante o aperitivo ela teve que fazer um pão na frente de todo mundo enquanto estava cercada de colegas do trabalho. Achei super diferente e o Marco me disse que é bem comum aqui.

Depois seguimos todos de carro para um campo vazio e um helicóptero veio buscar o casal para o local do jantar de casamento. Achei legal demais. Mais um ponto positivo. 

O local da “festa” era uma fazenda, com um gramado grande, uma casa antiga e grande e uma sala
O local da festa: uma fazenda em um vilarejo
com algumas mesas para o jantar. Tivemos um segundo aperitivo na parte de fora da casa. Na verdade acho que foi um aquecimento para o momento dos discursos. Sim. Formamos uma roda e cada convidado tinha que explicar a ligação com o casal e entregar um presente que remetesse ao momento em que eles se conheceram. Só pensei em uma coisa: FUDEU! Além de não saber alemão, eu simplesmente conheci o casal no dia do casamento. Não precisei muito para convencer meu namorado que ele iria falar de como ELE conheceu o casal e mencionar brevemente que eu sou apenas a namorada. Ele ainda tentou me convencer a falar uma frase em alemão me apresentando porque segundo ele o meu “sotaque tentando falar alemão é muito bonitinho”. Minha resposta:

Essa parte também foi um pouco chata, mas acho que foi mais chata porque eu não entendo a língua, óbvio. Deve ser interessante conhecer as histórias dos convidados.

Meu lugar marcado na mesa
O jantar é sempre um jogo de adivinhas. Você tem um lugar marcado, em uma mesa marcada e é sempre uma aventura tentar decifrar o porquê você foi colocado ali. Pelo menos pra mim. De um lado estava o meu namorado, óbvio, e do outro estava a irmã da noiva. Oi? Achei que ela estaria na mesa principal, mas não. Ela estava na mesa dos amigos e estrategicamente ao meu lado. Durante o jantar acabei descobrindo. Ela fez um intercâmbio de alguns meses em Londres, ou seja, acho que era a única ali, além do meu namorado, que falava inglês. Por alguns minutos me senti importante. rs. Mais um ponto.


A parte mais difícil, na minha opinião, foi após o jantar. Começou uma maratona de brincadeiras intermináveis. Todos foram convidados para fazer uma apresentação, seja um teatro, recitar um poema, contar uma história ou organizar um jogo, envolvendo os convidados e os casais. Simmmmmm. O fato de não entender a língua pesou muito, mas percebi que tava ficando muito cansativo, tanto que eles pararam no meio para cortar o bolo e servir a sobremesa. Não dei conta. Já era mais de meia-noite e meu corpo pedia por descanso. 

Do que mais senti falta? Música!! Não tocou absolutamente nada o dia inteiro. Do que mais gostei? Ah. Tudo. No fim das contas é legal vivenciar algo tão diferente do que estamos acostumados. A cultura é diferente. Normalmente os casamentos daqui não são tão pomposos como muitos no Brasil. Aqui eles são mais reservados e preferem comemorações intimistas. A decoração é muito simples. Neste que eu fui tinha apenas UM fotógrafo. Inclusive, algumas das fotos que postei são dele. Ainda prefiro os casamentos brasileiros. Acho que estou acostumada com a festa, a farra, a nossa desorganização organizada. E na opinião do Marco, que é suíço, o casamento brasileiro é melhor. Ponto pra gente!! KÜSSE!


terça-feira, 23 de agosto de 2016

O dia em que tudo deu errado

Sempre existem aqueles dias estranhos, esquisitos, que nos fazem questionar o porquê levantamos da cama. Já passei por vários desses. Inclusive, me atrevo a dizer que a minha média é um dia–para–esquecer–pra–sempre por semana.

Mas, nesses meus 29 anos, existiu um dia em que eu bati todos os recordes de azar do universo. Acordei atrasada, pra variar, e comecei a correr pra não perder o trem que me levaria de Lucerna, onde eu moro, pra Neuchâtel, onde eu fazia o mestrado, na Suíça.


Como de praxe, liguei o chuveiro para esquentá-lo (sim, o inverno da Europa congela), coloquei o pão de forma na misteira e preparei a cápsula de café na máquina. Fui checar o chuveiro e percebi que a água não esquentava. Lembrei-me de que vi um papel na porta de entrada no apartamento. Não dei a mínima atenção, já que estava em alemão, mas, naquele momento de pressa e desespero, lembrei que o anúncio começava com a palavra ACHTUNG (atenção, em alemão) em caixa alta, e mostrava uma data em negrito. Não poderia ser!!! Mas era!!! Conferi a data e era a mesma do dia, além do horário, que mostrava: 7am - 6pm. Sem água quente naquele dia. Mas como? Impossível tomar banho gelado naquele frio, mas ficar sem tomar banho? Jamais! Brasileiro NÃO fica sem banho (a maioria deles, pelo menos).


Siiiim. Vocês acham que em países europeus, mais precisamente a Suíça, não existem problemas? Se enganaram. Existem! E é bem mais difícil arrumar uma solução por aqui por ‘N’ fatores, mas isso a gente deixa pra outro dia, até porque.... a academia da esquina!!! Isso. Tinha exatos 30 minutos pra estar na estação de trem. Corri pra arrumar as minhas coisas quando senti aquele cheiro de queimado. Esqueci o pão na misteira. Queimei meu lanche da manhã, mas consegui salvar o café, que já estava frio, por sinal.

Corri à academia e, obviamente, Murphy, que estava presente desde o momento em que eu acordei, apareceu lá, sentado no vestiário feminino, só pra me fazer lembrar que não era o meu dia. O vestiário normalmente está sempre vazio, mas naquele dia tinha FILA pra tomar banho. Consegui. Olhei no relógio: 10 minutos para secar o cabelo, arrumar minha bolsa com materiais do mestrado e o almoço do dia (sim, se quando eu morava em Beagá eu já levava comida, imagina aqui?).

Perdi o trem. Era óbvio. Mas a segunda opção me faria chegar cinco minutos atrasada, então ainda estaria em tempo. Adivinhem? Trem “número 2” cancelado. Uma penca de pessoas tentando conversar com os atendentes da estação (aquela turma do “posso ajudar”, sabe?). Desfrutei do fato de ser baixinha e saí me enfiando por todos até chegar a um dos rapazes e descobrir a conexão que deveria pegar. “Mudamos a conexão de um dos trens para atender à demanda, então você pode pegar este, mas com duas trocas e com intervalo de apenas dois minutos”. Se tudo desse certo chegaria 10 minutos atrasada, mas era a única opção.

Cheguei na faculdade descabelada igual a medusa, suando igual um porco e... o professor não estava lá, tinha atrasado.



A apresentação de trabalho foi OK. E eu finalmente tive a sensação de que o pior já tinha passado. No caminho de volta uma ventania começou absolutamente do nada. E, claro, eu estava de vestido e casaco, mas sem meia-calça, porque, na correria, a minha desfiou quase por completo e eu fui obrigada a tirar. Tentei correr até a estação com aquela sensação de que iria voar. E voou. Não, eu não, claro, mas o guarda-chuva. Continuei minha caminhada sem guarda-chuva e com frio.

Como de costume, corri até o fim da plataforma pra pegar o trem, já que as pessoas sempre se amontoam no início e os últimos vagões ficam vazios. Não sei porquê resolvi inventar de correr. Pensem na cena: uma pessoa correndo de salto (baixo, mas não deixa de ser salto), vestido, roupa ensopada, mochila nas costas, bolsa térmica na mão e tentando beber água. Claro que a garrafa de alumínio caiu e saiu rolando. E claro que ela caiu na trilha do trem. Depois disso foi aquela vergonha sem igual. Um anúncio no alto-falante. O pessoal da manutenção chegando para tirar a garrafa do meio do trilho, o trem atrasado por minha culpa e todo mundo me olhando.

Cheguei em casa exausta.

- Amor, você não acredita no meu dia de hoje.

- O que aconteceu?

- Tudo começou com o chuveiro aqui do apartamento. Você sabe que hoje não tivemos água quente das 7 da manhã até às 6 da tarde, né?

- Ahn? Como assim? No anúncio lá fora a única coisa que dizia era que eles iriam fazer uma manutenção no prédio, mas pediam para não gastar tanta água e esperar um pouco mais do que o normal até a água esquentar....